Edição de junho do Grand Round, evento promovido pelo Hospital Moinhos de Vento, aborda doenças respiratórias no inverno.
“A nossa única saída é a vacina. Vacina é a solução”, afirmou de forma contundente o chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Moinhos de Vento, João Krauzer, durante palestra no Grand Round de junho, promovido pela Instituição nesta semana.
“Hoje, a gente atende casos gravíssimos de H1N1 que evoluem para um quadro séptico, para ventilação mecânica, que fazem diálise, que evoluem para a ECMO (oxigenação por membrana extracorpórea). Esses quadros provavelmente não progrediriam com essa gravidade se as crianças estivessem vacinadas”, avaliou o pediatra.
Doenças respiratórias no Inverno foi a temática do evento no Auditório Moinhos. Números confirmam a relevância do assunto.
Durante a pandemia, os dados do Serviço de Pediatria da instituição caíram para cerca de 7 mil atendimentos na Emergência, com taxa de internação por volta de 4,89%.
Conforme a vida das crianças e adolescentes foi voltando à normalidade, o trabalho médico aumentou: em 2022, o número de atendimentos foi de mais de 21 mil casos, com taxa de internação de 5,37%.
Nos cinco primeiros meses de 2023, o Hospital já registrou mais de 19 mil atendimentos na Emergência Pediátrica, com taxa de internação em torno de 6,46%.
O agravamento dos números ocorreu entre abril e maio. Mas a dúvida permanece: por que as crianças ficam mais suscetíveis no inverno ou em temperaturas mais baixas? Krauser explicou que existem variáveis que compõem essa suscetibilidade, como sistema imunológico ainda em desenvolvimento, vias aéreas de menor calibre (maior facilidade de obstrução), reserva pulmonar menor (mais sensível à variação de oxigenação e menor capacidade de autorregulação.
Por isso, os pequenos sofrem com as alterações climáticas e fatores socioeconômicos — quanto mais carentes, maior a exposição aos fatores de risco e menores os cuidados com a saúde, nutrição e bem estar.
Entre as doenças com maior prevalência nessa faixa etária, estão gripes, resfriados, bronquites, pneumonias, asma e meningites.
“Os estudos preconizam que, ao longo do ano, as crianças terão de 7 a 10 episódios de resfriado comum. Porém, aqui no Rio Grande do Sul, temos essas ocorrências ao longo de três ou quatro meses, e isso reflete também no número de vezes que será necessário buscar atendimento”, relatou o pediatra.
Prevalência em adultos
A população adulta também fica mais suscetível às doenças respiratórias no inverno — e isso se deve à maior resistência dos vírus às baixas temperaturas.
“O vírus se beneficia com o frio, mas não é só isso. Tendemos a ficar em ambientes mais fechados e mais suscetíveis ao ar contaminado. A radiação ultravioleta, muito importante para neutralizar o vírus, também diminui nesses meses – e se a luz do Sol entra em um janela, mesmo fechada, ajuda a matar as partículas com carga viral do ambiente”, elucidou o chefe do Serviço de Infectologia do Moinhos, Alexandre Zavascki.
Uma das soluções apontadas pelo especialista – e que pode estar no radar da engenharia e da arquitetura – é a capacidade estrutural dos ambientes em relação à circulação do ar.
“O ambiente seguro será aquele em que não vamos ficar respirando o mesmo ar”, pontuou Zavascki.
A prevenção deve ser o foco. Medidas preventivas, como não fumar e o hábito de práticas saudáveis como o exercício, bem como usar máscaras em caso de sintomas são de extrema importância.
As doenças respiratórias são a terceira causa de morte no Brasil, segundo estudo apresentado pelo chefe do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital, Marcelo Gazzana.
“As doenças das vias aéreas inferiores eram a terceira maior causa de morte em 1990 e continuaram a ser em 2015, conforme esses dados”, enfatizou.
No Hospital Moinhos de Vento, de 2019 a maio de 2023, foram 46.399 atendimentos na Emergência, que ocasionaram 6.209 hospitalizações e 196 admissões no Centro de Terapia Intensiva (CTI).
Os especialistas reforçam a necessidade da vacinação como forma de prevenir quadros mais graves, como a pneumonia.
“As evidências são muito robustas para a vacina da gripe. Há uma projeção de que o imunizante diminui em 30% a evolução do quadro de resfriado por influenza para o quadro de pneumonia viral, e temos indicativos de que diminuiu também a ocorrência de pneumonia bacteriana”, expôs Gazzana.
O médico ainda reforça que as pessoas com doenças respiratórias crônicas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), devem buscar tratamento com especialista e manter revisões periódicas.
Painel respiratório
O diagnóstico preciso é de extrema importância para um tratamento adequado.
O Hospital Moinhos de Vento oferece um teste capaz de identificar 24 vírus e bactérias causadoras de doenças respiratórias, como gripes e resfriados.
Adotado em 2022, o painel respiratório — nome dado a esse tipo de exame — identifica os principais vírus e bactérias respiratórias que circulam no nosso meio, como influenza A e B, vírus sincicial respiratório — causador de bronquiolite em crianças pequenas —, Covid-19, rinovírus, enterovírus e Bordetella pertussis, causadora da coqueluche.
“Para crianças pequenas, esse teste é importante, pois sabemos que alguns vírus podem incorrer em uma infecção mais grave, resultando em pneumonia e até insuficiência respiratória. Em pacientes mais idosos, com alguma comorbidade ou imunidade reduzida, ele ajuda a identificar com assertividade o causador da doença e, assim, conseguimos tratar de forma adequada”, destaca Francine Hehn de Oliveira, coordenadora médica do Laboratório de Genética e Biologia Molecular.