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Pensar Deus como libertação e não com medo

ByGabriela Andrighi

jun 5, 2020

Muitas pessoas receberam o anúncio de Deus, não com a imagem de um Deus que liberta, que ama, mas como um Deus que dá medo. É só voltar um pouco na história para encontrar resquícios do anúncio de que “Deus vai te castigar se você não fizer isso ou aquilo direito”. Na educação de muitas crianças existiu esse refrão. Eu posso dizer que isso não esteve muito presente na minha formação, mas que ao pensar em Adão e Eva encontrava a causa de tantos males no mundo e, ainda imaginava, que se eles não tivessem desobedecido estaríamos todos vivendo num jardim de paz. Nesta imagem também estava presente o castigo de Deus imposto a toda humanidade, devido ao primeiro pecado. A imagem aterrorizante do inferno acompanhou a catequese de muitas pessoas e deixa marcas ainda hoje em mentes e corações.

Naturalmente o estudo da Sagrada Escritura nos traz uma nova imagem de Deus. O Deus da Bíblia é um Deus preocupado com o órfão, a viúva e o estrangeiro. Ele é apaixonado pela humanidade. Ele é Pai e Mãe, ocupado somente em amar, com amor infinito, perdão incondicional. É um Deus que segundo Oséias não sabe castigar e, conforme Isaías, não esquece nenhum de seus filhos, muito embora algumas mães possam esquecer. Este Deus se mostrou plenamente em Jesus de Nazaré. Nele Deus se mostrou como amor infinito, como pura salvação.

Disso surge a pergunta: pode um Deus puro amor também castigar?  A própria pergunta tende a ferir a sensibilidade e se torna um tanto absurda. O amor não pode ferir, castigar, fazer mal, matar. É contraditório dizer que Deus é amor puro e que castiga ao mesmo tempo. A revelação de Deus como amor, plenamente realizada em Jesus, impossibilita a afirmação de que Deus pode castigar. Ele pode tudo no amor e não fora Dele. Seria a própria essência negando a si mesma. Dizer que é puro amor e que castiga ao mesmo tempo, só é possível no discurso, mas na realidade é um absurdo. O discurso precisa ser levado as suas últimas conseqüências, numa linguagem coerente. Ao dizer que Deus é amor infinito afirmo o que há de mais profundo, completo e intenso na revelação de Deus. Mas, preciso também levar essa verdade as suas conseqüências, sem entrar logo em contradição. Não há outra palavra que diz mais sobre Deus do que o amor.

Um discurso menos preocupado com coerência lógica, a partir de uma visão mais superficial, poderia dizer que o amor às vezes fere e até mata. Ciúmes, castigo que pai e mãe dão aos filhos para educá-los, o amor que exige a duras penas a disciplina que faz crescer… etc. Todo esse pensamento consiste em pensar o amor humano e suas contradições e aplicá-lo a Deus. Essa forma de pensar é chamada de antropomorfismo, isto é, atribuir características e aspectos humanos a Deus. Exemplificando, o ser humano pensa em como ele age com as pessoas que ama – e o amor humano sempre apresenta contradições – e atribui a Deus o mesmo proceder. O pai e a mãe educam seus filhos assim, por isso, Deus faz o mesmo. Esse não é um pensamento teologicamente verdadeiro.

Diante disso, há uma necessidade muito grande de anunciar o Deus amor, tirando as conseqüências dessa verdade com coerência lógica, ou seja, sem contradições. Pensemos nisso…

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