Nós somos frágeis, vulneráveis. Qualquer doença um pouco mais prolongada pode nos tirar do ritmo normal e nos paralisar. Impossibilita de prosseguirmos a vida com as metas e ritmo que havíamos estabelecido. Diante disso questionamos a nossa utilidade, ou melhor, o nosso valor. Se não posso produzir mais nada, que valor eu tenho? Será que o meu valor se firma em minha capacidade de produzir? Certamente, não podemos deduzir o nosso valor disso. O meu valor não consiste na utilidade que tenho para as pessoas ou para alguma coisa. Consiste sim, na dignidade que tenho como pessoa humana, independente de ser fraco, velho, doente, pobre ou desempregado. É natural que eu queira estar bem e forte para mostrar o meu valor às pessoas e a Deus. É normal querer estar bem, ser útil, trabalhar e contribuir para o desenvolvimento da vida, mas isso, por vezes, não é possível.
Se vier a doença precisarei me reconciliar com ela. Então mostrarei que a vida tem um valor imenso, pois na reconciliação com a doença testemunharei a existência de um amor infinito. Dizendo sim à minha doença me reconcilio com Deus, me abro ao seu amor e então terei mais condições e possibilidades de cura. Se eu ficar raivoso com a minha situação, me revoltar com as pessoas e com Deus, por causa da doença, então ficarei ainda mais doente.
Não é bom para mim e para a minha cura que eu fique protestando o tempo todo contra a situação de doença em que me encontro. Também não é edificante que eu rejeite ou não aceite o cuidado que recebo diante da minha doença. Existem casos em que a pessoa vai precisar da outra pessoa, para um cuidado permanente. A doença me paralisou inteiramente. Não consigo fazer nada sem ajuda.
Diante dessa situação eu posso perceber um valor inviolável da vida. A vida é muito mais da nossa utilidade, de nossa força. Está fundada no valor supremo do amor. Posso perder tudo, ser incapaz de fazer qualquer coisa, até mesmo perder a consciência. Se isso acontecer, de alguma forma perco até mesmo a capacidade de amar. Isso, porém, não tira no outro, em quem me cuida, na minha família, a possibilidade de me amarem. A possibilidade do amor continua dando valor à minha existência. E se acaso, todos me abandonarem, até eu a mim mesmo, ainda há um amor que não desiste, que é o amor de Deus. Ele continua me fazendo um ser único, digno, amável e com muito valor.
Nessa pessoa que precisa de cuidados há uma história, há um rosto, um coração, uma alma que eu não posso alcançar. Ali mora um valor inviolável. No cuidado, no respeito, no amor que eu tenho por essa pessoa doente, dignifico a mim mesmo. Nisso expresso a fé no valor da vida e da dignidade, mostrando que não há doença ou culpa que retire a dignidade. Uma pessoa doente pode, por isso, tornar-se, na sua doença, fragilidade e debilidade, um indicador de vida para nós. O doente e o culpado não perdem o seu valor de pessoa. O amor de Deus sempre será o sustento último e irrevogável de sua dignidade.