A capacidade de demonstrar humildade cada vez mais é reconhecida como critério de diferenciação nos diversos níveis de liderança corporativa.
Jim Collins, professor de administração da Universidade de Stanford, estudou porque algumas empresas em iguais condições e potencial alcançaram a excelência e outras não, chegando a conclusão que estas se diferenciam no quesito da qualidade de liderança.
Assim, em seu livro “Good to Great” (Empresas feitas para vencer), sugeriu uma teoria apontando 5 níveis de liderança, em que o nível máximo seria o fiel da balança entre 2 empresas de igual poderio e potencial.
Nível 1: Reconhecimento da habilidade do líder pelo grupo
Nível 2: Capacidade de trabalhar em grupo
Nível 3: Capacidade de coordenação do grupo
Nível 4: Liderança executiva: capacidade de planejamento e comunicação clara de um objetivo -> nível padrão dos grandes grupos e corporações
Nível 5: Os 4 níveis acima + HUMILDADE e Capacidade de tomar decisões difíceis
Contextualizando com a Cirurgia, em especial a Cirurgia Plástica Estética e principalmente a Reparadora, o cirurgião plástico tem sua humildade colocada à prova diariamente, quando se depara com casos desafiadores, enfrenta falha terapêutica e resultados não satisfatórios (seja para si, seja para o paciente).
Não apenas no conceito de humildade intelectual (reconhecimento e balanço entre as virtudes e limitações próprias), como requisito para aprendizado constante, aprimoramento técnico, crescimento profissional, mas também no conceito de liderança humilde, que vem muito de encontro ao que o professor Collins cita na sua obra.
Líderes humildes não focam apenas em resultados e não enxergam seus subordinados como mero meio para atingir um objetivo final.
A liderança humilde se baseia na capacidade de tornar os subordinados determinados e motivados, trazendo à tona o que têm de melhor, gerando melhores resultados em equipe.
O “Servant leadership”, ou liderança a serviço, exerce humildade diariamente, quando valoriza o papel e habilidade daqueles que possuem menor escala hierárquica.
Filosoficamente, creio que Jesus Cristo foi exemplar nesse quesito. À parte da humildade de vir ao mundo como Salvador sem grandes posses terrenas, filho de carpinteiro, nascido numa manjedoura, soube como ninguém reconhecer as peculiaridades e habilidades e se colocar lado a lado em igual condição de cada um dos seus 12 apóstolos e seguidores próximos.
A Cirurgia Plástica evidencia uma constante evolução tecnológica, em que depende do conhecimento coletivo para melhorar a prática médica.
A liderança humilde e aqui acrescento a tomada de decisões difíceis, promovem alto desempenho organizacional, através da valorização da contribuição e otimização do papel de cada indivíduo, gerando um ambiente harmônico, seguro, com bases para crescimento constante e obtenção de ótimos resultados cirúrgicos assistenciais e porque não acadêmicos, voltados ao ensino e pesquisa.
Líderes humildes sabem se comunicar, apostam na inovação e criatividade, sabem reconhecer que não são os únicos detentores do conhecimento, assumem seus fracassos (e enxergam nisso uma oportunidade de crescimento), compartilham os méritos dos êxitos com a equipe, sabem escutar opiniões contrárias, mesmo que educadamente sigam seu instinto e tomem decisões pessoais por vezes difíceis, valorizam o potencial dos seus pares e estão disponíveis para capacitar outros líderes promissores dentro da equipe.
Gosto de como os autores do artigo referência para este texto sugerem que humildade e ambição devem caminhar juntos. Ambição no sentido de evoluir, buscar oferecer o melhor serviço, na Cirurgia Plástica, com segurança e obtenção de resultados sólidos e consistentes, que não deve ser confundido com ganância, seja pessoal ou financeira. Não apenas a Cirurgia Plástica, mas a humanidade prospera na humildade.
Tive (e tenho) a oportunidade de ser liderado e orientado por grandes cirurgiões que demonstravam além de técnica aprimorada, exercício constante de humildade em suas posições.
Não é fácil demonstrar humildade numa especialidade em que o ego é muitas vezes inflado e preponderante, bem como seria um contrassenso se apresentar como um líder de nível 5 (talvez uma falta de humildade por si só), ainda assim, como seres humanos que cuidam de vidas e lutam pela reabilitação da função, pela forma e pela beleza aqui há uma grande oportunidade de crescimento pessoal e profissional.
“Cirurgia boa é cirurgia segura”
Dr. Rogério Mendes
Cirurgião Plástico USP
CRM 159180 / RQE 74475
@drrogeriomendes
www.consultoriodapele.com.br
Referências:
Mauch, Jaclyn T. MD, MBE; Chung, Kevin C. MD, MS. On Humility. Plastic and Reconstructive Surgery 154(4):p 695-698, October 2024. | DOI: 10.1097/PRS.0000000000011505 (acesso livre).
Os 5 níveis de liderança. Disponível em Método BP (Valores do Mundo Corporativo) por Brasil Paralelo.
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