Entende-se por expectativa uma espera positiva, baseada em uma probabilidade e desejo de realização de um fato ou conquista. Dentro do conceito da estética, o anseio pela entrega da beleza almejada é baseado em uma perspectiva que carece de viabilidade para ser atingida.
Assim posto, qual é o real limite para obtenção da beleza desejada através de procedimentos estéticos? Vivemos em uma era em que as mídias sociais ditam padrões e tendências, em que a população média pode ter acesso ao cotidiano de personalidades públicas e famosas, reconhecendo padrões e hábitos referenciais de comportamento.
Se por um lado a era digital nos oferta um leque de opções e informações outrora restritos a um seleto segmento da população, por outro lado, nos fornece meios para introduzir na população padrões de beleza inatingíveis.
Há uma pressão cultural para adequação a estereótipos e padrões de beleza que não se mostram verdadeiros e factíveis.
Ora, o leitor aqui pode questionar se não houve avanços nas tecnologias ofertadas pela indústria dos dermocosméticos, ou mesmo das técnicas de cirurgia plástica, que permitam atingir resultados inimagináveis há até poucos anos atrás.
Certamente a indústria mune nós profissionais da estética com uma gama de produtos modernos e seguros que têm surpreendido com resultados incríveis e reprodutíveis.
Entretanto, há muito ainda a evoluir. Conhecimento e ciência seguem em franca evolução.
Ademais, cada indivíduo é único, possui uma herança genética própria, uma história de vida e hábitos particulares, que tornam cada indicação de tratamento estético uma necessidade de individualização, com limitações e resultados variáveis.
Os impactos psicológicos para o indivíduo que não tem suas expectativas atendidas (dentro de um contexto normal de variação entre limitação e superação de resultados na população) são potencialmente danosos.
Sentimentos de desilusão, frustração, diminuição da autoestima e distorção da imagem corporal são exacerbados numa geração ansiosa e sedenta por estímulos dopaminérgicos, podendo ser ainda mais catastróficos em pacientes propensos a transtornos dismórficos corporais.
Nenhum procedimento estético ou cirúrgico é isento de risco.
A busca desenfreada por resultados perfeitos aumenta os riscos de complicações, mesmo quando os procedimentos são realizados por profissionais médicos capacitados, e são ainda mais agravados quando realizados por pseudo-profissionais da estética que se multiplicam no país com promessas irreais e milagrosas, sem critérios de validação, segurança e regulamentação pelas autoridades competentes.
É papel do dermatologista, médico este especialista no cuidado da pele, com formação mínima de 3 anos nos programas regulares de residência médica reconhecidos pelo MEC e com anos adicionais de formação nas subáreas de cosmiatria e laser, tricologia, cirurgia dermatológica, doenças infecciosas da pele e outras, informar os pacientes sobre os objetivos e perspectivas reais a serem atingidos em procedimentos estéticos seguros e sustentáveis.
A consulta médica é o momento ideal para a troca de informações e experiências, onde se desenvolve a medicina técnica e ética, e para tal, exige tempo e detalhamento.
Estética sem saúde é desvalida, não atende ao seu propósito básico e coloca a população em risco. É no consultório, na presença de um profissional sério e capacitado, e não nas redes sociais, onde expectativas e realidade são devidamente alinhadas.
A busca por tratamentos estéticos com expectativas sensatas e devidamente informadas é essencial para garantir resultados seguros e satisfatórios.
Consultar um profissional qualificado, ajuda a alinhar expectativas legítimas com a realidade, promovendo uma abordagem que valoriza acima de tudo saúde e bem-estar. A verdadeira beleza reside no respeito à individualidade, na autenticidade e no cuidado com a própria saúde.
“Cuidar da pele é mais que vaidade”
*Médica Dermatologista do Consultório da Pele – SP
@draniraherenio
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