Você já ouviu falar no Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Ele não é tão conhecido como o Coronavírus, mas pode causar doenças graves e até levar a óbito.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), de 90 a 100% das crianças são infectadas pelo VSR até os dois anos de idade.
E o sincicial também é responsável por 80% das bronquiolites e 60% das pneumonias nesta faixa etária.
Sendo que, ainda conforme a SBP, 58% das internações pelo vírus ocorrem em bebês com menos de seis meses de vida.
Para entender mais sobre o Vírus Sincicial Respiratório e saber como se proteger dele nestes dias frios, médico Pediatra e Intensivista Pediátrico do Hospital Moinhos de Vento, Aristóteles de Almeida Pires, esclarece:
O que é o Vírus Sincicial Respiratório?
Aristóteles de Almeida Pires – O Vírus Sincicial Respiratório pode causar infecções leves, como gripes e resfriados, até outras doenças mais graves, como pneumonias e bronquiolites.
Nas crianças menores, principalmente naquelas abaixo de seis meses de idade, ele causa bronquiolite, que é quando o vírus ataca as vias respiratórias menores (os bronquíolos) e causa uma inflamação difusa no pulmão.
E nas crianças maiores e também nos adultos este mesmo vírus pode causar apenas uma gripe.
Então, é um vírus que tem uma gama ampla de doenças com diversos sinais e sintomas.
Entretanto, o maior problema que ele oferece é a bronquiolite, que demanda este grande volume de internações e procura por hospitais neste período de frio e inverno.
Como é o tratamento das bronquiolites?
Aristóteles de Almeida Pires – O tratamento das bronquiolites envolve, basicamente, um suporte com oxigênio, por este motivo estes pacientes geralmente internam nos hospitais.
Então, podemos ofertar o oxigênio por vários dispositivos, desde cateteres nasais, máscaras e, nos casos graves, com o uso da ventilação mecânica.
Também é muito importante a aspiração das vias aéreas, a limpeza com lavagem nasal e o suporte com a fisioterapia, em casos específicos.
Ainda é fundamental manter a criança bem hidratada, para facilitar a liberação das secreções, e porque ela gasta mais energia e tem uma necessidade metabólica maior.
Existe um tratamento específico para o vírus sincicial?
Aristóteles de Almeida Pires – Não existe um tratamento específico, ou seja, uma medicação específica para tratar o vírus sincicial.
Basicamente, o tratamento é de suporte (como dito anteriormente), o que envolve a hidratação, a oferta de oxigênio, a fisioterapia e as aspirações (das vias aéreas).
O uso de antibióticos é indicado somente quando existe uma infecção secundária (uma vez que este vírus pode favorecer complicações, como as próprias infecções bacterianas secundárias ou até causadas por outros vírus).
Então, eventualmente, quando a criança tem uma otite ou uma pneumonia de origem bacteriana é indicado o antibiótico.
Mas não para tratar o vírus em si, mas, sim, as complicações que pode causar.
O vírus sincicial pode levar a óbito?
Aristóteles de Almeida Pires – O Vírus Sincicial Respiratório pode causar complicações graves, levando a óbito, principalmente de crianças que têm fatores de risco, como prematuros ou pacientes que têm baixo peso ou que têm alguma morbidade (como uma cardiopatia ou uma pneumopatia).
Estes indivíduos têm uma chance maior de se tornarem casos mais graves, que demandam ventilação mecânica e internação hospitalar.
Para estes casos graves, existe uma prevenção com Imunoglobulina, que pode ser indicada pelo pediatra.
Mas apenas os pacientes de risco podem receber a aplicação deste anticorpo injetável, de forma preventiva. É uma conduta recomendada para populações restritas.
De qualquer forma, as crianças que têm bronquiolite precisam estar sob cuidado.
Precisam ter um uma monitorização contínua para detectar quais são os casos mais graves que precisam internar e os pais e responsáveis necessitam estar atentos aos sinais de gravidade.
Quais são os sinais de alerta dos casos mais graves?
Aristóteles de Almeida Pires – Os sinais de alerta que os pais (e responsáveis) precisam ficar atentos são:
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Disfunção respiratória (ou aumento da frequência respiratória) com sinal de esforço.
A criança fica com a respiração ofegante geralmente quando a doença está na fase mais aguda e existe a necessidade de intervenções em nível hospitalar.
Em que época aumentam os casos das doenças causadas por este vírus?
Aristóteles de Almeida Pires – É justamente nesta época do ano que estamos, quando o frio começa a chegar e o inverno se aproxima.
Ocorre pela sazonalidade e também pelas aglomerações frequentes nas casas e creches, o que favorece a transmissão deste vírus e o surgimento de muitos casos de crianças com bronquiolite.
Aliás, nas creches isto é muito comum e há um risco maior de adquirir infecções virais, pois sempre tem um bebezinho que está gripado ou saindo de um quadro viral e isso acaba favorecendo a transmissão.
Então, fatores a considerar: a questão do inverno, da idade e de frequentar creches (o que, aliás, está comprovado na literatura médica).
Como é possível se proteger do vírus sincicial?
Aristóteles de Almeida Pires – Para a proteção, recomendamos as medidas gerais, como:
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Evite aglomeração;
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Evite o contato com pessoas ou crianças que estejam com sintomas respiratórios;
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Conserve o indivíduo bem hidratado e, para aqueles que têm idade, mantenha o consumo de leite materno.
Existe vacina contra o sincicial?
Aristóteles de Almeida Pires – Não existe uma vacina contra o vírus sincicial, porém existe a vacina contra a gripe que protege contra o Influenza, que pode ser um vetor para uma infecção secundária.
De que forma a telemedicina do Hospital Moinhos de Vento pode contribuir com os pacientes?
Aristóteles de Almeida Pires – A telemedicina, da qual já dispomos no Hospital Moinhos, é uma ferramenta muito útil, principalmente para acompanhar aquelas crianças que estão tendo uma evolução mais grave da doença.
Podemos acompanhá-las no consultório ou por uma teleconsulta e avaliar quais são os sinais que estão indicando uma piora do caso, por exemplo, e indicar o tratamento hospitalar.
A telemedicina também ajuda muito naquelas situações mais leves, em que o paciente não precisaria, necessariamente, ir para uma Emergência, em um primeiro momento.
Ele pode ter um atendimento inicial no consultório, com continuidade e segmento via telemedicina e o seu pediatra definir se há indicação de uma avaliação hospitalar, ou não.
Também pode ser orientado sem sair de casa. Esta ferramenta tem potencial muito grande para a redução da sobrecarga de pacientes nas Emergências.
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