O acesso às tecnologias no campo ainda se concentra entre os grandes produtores, muito em razão do alto custo envolvido. Pesquisa realizada pela Embrapa, em parceria com Sebrae e Inpe, aponta que fatores como valor de investimentos com máquinas, implementos ou aplicativos (67,1%), problemas ou falta de conexão à internet (47,8%), recursos para a contratação de serviços especializados (44% e) e falta de conhecimento sobre as ferramentas mais apropriadas (40,9%) dificultam a modernização rural. No Brasil, conforme o IBGE, 77% se enquadram como agricultura familiar, respondendo por 23% do valor da produção.
Para reverter esse cenário e contribuir com o processo de inclusão digital de quem ainda está à margem dessa evolução, a ConnectFarm lançou um desafio: auxiliar, pelo menos, 5 mil agricultores familiares nessa travessia. A iniciativa da startup – que integra tecnologia com os fatores de produção – foi chamada de Projeto 5K. A ação iniciará no Rio Grande do Sul e deve, em breve, ser replicada no país.
Em uma única ferramenta, com custo acessível, serão reunidas as informações necessárias de vários aplicativos para ajudar na tomada de decisões mais complexas e que resultem no incremento da produtividade. “A inclusão digital vai revolucionar as pequenas propriedades. Esse projeto trará um grande impacto social e ambiental. Com mais gestão, há incremento na renda e otimização de todos os recursos. O agricultor familiar vai encontrar recomendações para a melhor semente, orientações para o plantio e, por consequência, usará menos defensivos”, explica o CEO da ConnectFarm, Rodrigo Dias. “Quem desconhece essas tecnologias vai poder fazer o melhor trabalho possível. Não é só entregar mais, mas ter uma entrega sustentável”, completa o executivo da agrotech.
O projeto-piloto da ConnectFarm começa pela região Noroeste do Rio Grande do Sul, em áreas de até 80 hectares, alcançando cerca de mil agricultores familiares na primeira etapa. A região, com 166 municípios, é reconhecida pela produção de grãos, com destaque para o milho e a soja. A estimativa é que com a utilização do recurso, o agricultor familiar tenha inicialmente um incremento de produtividade pelo menos 4 sacas de soja/ hectare – a média da oleaginosa neste segmento fica entre 11 e 13 sacas/ha. Para aderir ao programa, será preciso apresentar o Documento de Aptidão do Pronaf (DAP).
Pesquisas indicam que, a cada safra, o produtor toma pelo menos 50 decisões, e apenas uma avaliação errada pode comprometer todo o resultado. “Hoje, ele é bombardeado com muitas informações, mas nem sempre elas são acessíveis ou simplificadas. O que o agricultor familiar gosta é de estar na lavoura, de cuidar da sua terra. E nós reunimos em um local todas as informações que ele necessita”, ressalta Rodrigo Dias.
ConnectFarm
A ConnectFarm integra tecnologia com os fatores de produção — buscando ampliar a produtividade, otimizar recursos e maximizar a rentabilidade do produtor rural. Com atuação nacional e menos de dois anos de atividades, já atende mais de 70 produtores do país.
Um dos projetos da agrotech é o Índice de Gestão Ambiental (IGA), baseado em um algoritmo que insere atributos do solo, das plantas e do ambiente. O sistema melhora a inteligência à medida que aumenta sua base de dados, permitindo uma recomendação mais assertiva para cada ambiente da propriedade rural. Os resultados da ConnectFarm já foram reconhecidos pelo Desafio CESB neste ano, com a premiação em lavoura irrigada, com as tecnologias implementadas na Fazenda Vila Morena, de Boa Vista das Missões.
Segundo o CEO da startup, o big data será cada vez mais empregado pelas propriedades para ampliarem sua produtividade de forma sustentável. “Os dados se tornaram o novo universo do agro. Eles transformam a compreensão dos processos produtivos, mudando expressivamente as fazendas”, completa Rodrigo Dias.
* Créditos da jornalista Eliane Iesen