Fico pensando qual a ideia de Deus que está por trás de pregações que fazem afirmações do tipo: Deus sabe do teu problema, da tua angústia, mas Ele tem o seu tempo que é diferente do nosso. Ele te dá a graça no tempo certo, que é o tempo dele. Essa ideia traz presente a liberdade de Deus. Ele é livre, faz o que quer. Ocorre que essa compreensão também faz pensar que Deus sabe do nosso problema, poderia ajudar a solucionar, mas que ele espera quando quer, no tempo Dele para ajudar. Como nós somos filhos, pela fé, devemos aceitar suas condições e vontades, afinal ele é Deus.
Ocorre que nascem aqui muitos porquês. Deus poderia fazer logo e não faz. Por quê? Até cria uma imagem de Deus difícil de aceitar para quem não se deixa levar pela fé. Muitas pessoas terão dificuldade de aceitar esse Deus que espera e poderão pensar em viver por si mesmas.
Eu fico pensando nisso e me parece que seria melhor olhar Deus a partir de outro ângulo. Será Deus que espera ou será o ser humano que tem o seu processo, seus limites, sua dificuldade em acolher a graça de Deus? O ser humano tem suas inconsistências, limites, dificuldades de perceber e acolher o amor e o bem. Se dissermos pela teologia que Deus é graça agora, Kairós, não podemos dizer que Ele espera. Uma coisa contradiz a outra. Afinal, Ele espera ou oferece a graça agora?
A compreensão de que Deus espera também se fundamenta na ideia de que o ser humano nem sempre consegue acolher a graça. Há momentos em que ele não está aberto à graça. Deus esperaria o momento oportuno para oferecer a graça. Assim, nessa hora o ser humano acolhe e transforma sua situação. Dizer assim também é uma forma interessante, mas ainda coloca em Deus a espera e isso afeta a imagem de Deus. Se Deus é Kairós, graça agora, podemos dizer que em nenhum momento ele deixa de oferecer a sua graça. Em nenhum momento Ele retira o seu sustento para o ser humano. Em nenhum momento Ele deixa de ajudar, ou deixa sofrer, quando poderia evitar esse sofrimento. Deus, embora esteja oferecendo a sua graça agora, nem sempre o ser humano consegue acolher. É o ser humano que não consegue e não Deus que espera. É o ser humano que precisa fazer seu processo de superação do problema ou da angústia e não Deus que o deixa sofrer. É o ser humano que é limitado e tem dificuldade de perceber a presença de Deus que está ali querendo agir agora.
O Deus que não se cansa de esperar e ofertar a graça nunca se retirou. Mesmo que o ser humano o rejeite, Ele está ali na espreita, como oferta gratuita de amor. O ser humano, porém, só agora consegui acolher essa graça e essa força de Deus nele. Deus sofre a espera da dificuldade e dos fechamentos do ser humano. Pensar assim é ver Deus como graça agora, oferta de amor. Não é Ele que espera, nem se retira, nem vem agir só no momento oportuno. Deus não precisa se desocupar de alguém para agir em outro. Ele não precisa abandonar um filho, por que esse não o quer, e voltar só quando decide querer. Embora esteja com sua presença de amor agindo no filho que quer, continuamente oferece a graça ao filho que ainda não decidiu, ou não conseguiu acolhê-lo. Também não precisamos pensar que Deus não ficaria perdendo tempo com alguém que não quer sua presença. Ou que Ele vem e dá a tacada certeira no momento certo. Esse tipo de compreensão não ajuda muito a compreender o Deus amor. Ele sofre os nossos distanciamentos, os nossos fechamentos e nossas demoras, mas jamais se retira com sua oferta de amor.