Apesar da derrota parcial, o Grêmio encerrava bem o primeiro tempo. Fazia um jogo parelho e, com mais um gol, levava aos pênaltis. Veio a segunda etapa, o segundo gol do Flamengo e tudo desmorona. Três, quatro, cinco gols. Abatido em campo, o Tricolor estava em pedaços e era incapaz de reagir.
Para além de questões físicas e táticas, a eliminação histórica do Grêmio na Libertadores chama atenção para algo que ainda é pouco trabalhado nos clubes brasileiros: o aspecto psicológico. Levantamento de 2018 mostrava que apenas seis times da Série A possuíam psicólogos nas comissões técnicas das categorias principais.
Diz o senso comum que futebol é emoção. Mas dentro das quatro linhas, a questão emocional é lembrada de forma pontual, geralmente em situações como esta, de eliminações onde um time sucumbe dentro de campo. Além disso, muitas vezes o trabalho psicológico é assumido pelo treinador, que acaba responsável por gerenciar a saúde mental da equipe. Há falta de conhecimento e até mesmo preconceito sobre a intervenção de psicólogos nos times.
No entanto, a psicologia esportiva é uma realidade cada vez maior em diversos países, federações e equipes, atuando da base até os atletas de ponta. Somente a seleção alemã de futebol, que em 2014 aplicou o traumático 7×1, tem cinco desses especialistas à disposição.
A atuação continuada de um psicólogo esportivo auxilia no gerenciamento emocional dos jogadores em diferentes aspectos, como atenção, concentração e manejo da ansiedade. Traz apoio em questões do dia a dia dos atletas, como transição de carreira, lesões e privação do convívio familiar. É, também, de grande valia para fortalecer a equipe antes de decisões – ou na recuperação após um evento marcante como o do Maracanã, na semana passada.
É necessário superar barreiras e investir mais na preparação emocional das equipes. Um trabalho que deve ser feito de forma estruturada, desde a base, sendo parte inclusive das comissões técnicas, intervindo na partida ou no vestiário. Um pilar do clube, não um bombeiro que virá ao socorro para apagar incêndios. Por trás de “Maracanazos”, há desgastes físicos, erros ou nós táticos. Mas há, também, questões psicológicas essenciais que devem ser consideradas. Hora de trazer esse tema para dentro de campo.