Por Cleber Benvegnú, jornalista, sócio-fundador da Critério
Sonhamos com o sucesso dos nossos filhos, em especial com sua realização financeira e profissional. Lá no fundo das intenções dos pais de classe média bem formados, há um desejo de que os herdeiros provem nossa própria competência. Que estudem, morem no Exterior, façam um concurso ou abram uma empresa, ganhem dinheiro – se encaminhem. Queremos que eles se deem bem na vida, não é assim?
Tudo isso é legítimo e compreensível, mas insuficiente. Estamos sonhando sonhos incompletos. E aqui vai a autocrítica de um pai que, no silêncio da noite, também se vê envolvido nessas projeções. Basta olhar em volta. Há uma crise existencial em muitos filhos vindos de ambientes emocionais supostamente bem constituídos. Os consultórios psicológicos, as clínicas de dependência e, infelizmente, os índices de suicídio na infância e na adolescência não me deixam mentir. Esse projeto de vida, baseado na matéria, não responde à inteireza da vida humana.
Essa ficha precisa cair para nós, pais, numa era em que tudo parece acessível e ilimitado. Algo não mudou: nossos filhos precisam de presença, afeto e, especialmente, noção de limites. Os adolescentes de hoje estão belos, saudáveis, nas melhores escolas e com as melhores roupas, mas falta-lhes o universo espiritual. Falta-lhes querer o céu e não apenas o mundo; o bem e não apenas o “bem bom”. Falta-lhes um sentido existencial que nem todo o dinheiro, poder e beleza é capaz de entregar.
Falta-lhes abertura para a santificação. Sim, falta-lhes Deus.
As famílias estão desprezando a dimensão metafísica da vida, independentemente de religião, transformando tudo num projeto coisificado. A tal consciência ambiental quer substituir até mesmo a moral. Treinamos nossos filhos para tudo, mas não legamos a fé, a crença, a espiritualidade, a religiosidade. Numa nação de herança judaico-cristã, incutiram-nos a ideia de que essa jornada deve ser solitária; caso contrário, seria uma imposição. E assim, cordeiros, assistimos a nossos filhos tipo barata tonta na jornada da existência.
Caímos numa esparrela, senhores pais. Respeitemos os descrentes, mas quem tem fé precisa retomar, dentro de casa, a apresentação dos seus filhos às experiências do alto. Porque a vida no espírito é bem mais do que esses sonhos de verão.